quarta-feira, 6 de maio de 2009

ESCASSEZ DE CHUVAS NO SUL FAZ GOVERNO LIGAR USINAS TÉRMICAS ESCASSEZ DE CHUVAS NO SUL FAZ GOVERNO LIGAR USINAS TÉRMICAS

by Ivo Pugnaloni 0 comments

O governo decidiu ligar as usinas termelétricas movidas a gás a partir deste sábado, informou nesta sexta-feira o ministro Edison Lobão (Minas e Energia). A medida visa poupar os reservatórios da região Sul, que estão com cerca de 39% da capacidade total preenchidos, bem abaixo das outras regiões do país, em função da seca naqueles Estados.



"Está chovendo pouco principalmente no Rio Grande do Sul. Em função disso, vamos ligar algumas térmicas para preservar os reservatórios", afirmou Lobão, ao chegar à cerimônia que marca o início da produção na área de Tupi, na camada pré-sal da bacia de Santos.


A previsão do ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) é que as térmicas passem a gerar cerca de 14 milhões de metros cúbicos/dia, aliviando os reservatórios. A diretora de Gás e Energia da Petrobras, Maria das Graças Foster, disse que as usinas da companhia vão despachar o máximo possível.


Graça Foster estimou que, com o despacho das térmicas, a importação da Bolívia voltará à carga máxima, passando dos atuais 23,5 milhões de metros cúbicos/dia para 30 milhões de metros cúbicos/dia nas próximas semanas.


Ultimamente, havia sobra de gás no país devido ao desligamento das térmicas e ao menor consumo decorrente da crise econômica. Essa situação fez a Petrobras iniciar leilões com o excedente de gás natural junto às distribuidoras. O primeiro foi realizado em 24 de abril, e o segundo está previsto para o dia 12 de maio.

Fonte: Folha Online - 01/05/2009

Comentários
Graças aos doze anos sem obras de geração hidroelétrica empreendidas pelo governo federal, toda vez que, em qualquer região do país, deixa de chover um pouco abaixo do normal, o Operador Nacional do Sistema declara estar despachando usinas térmicas “para economizar água” (!)E aí, voltam à imprensa aquelas explicações de que “falta geração hidroelétrica porque as licenças ambientais demoram muito”.
A verdade é que a ANEEL possui 37.000 MW em projetos e inventários de usinas hidroelétricas e pequenas centrais hidroelétricas, ( mais da metade de tudo que está instalado hoje!) mas tem apenas 12 ( doze, uma dúzia ) analistas para analisar e aprovar esses projetos. Na velocidade atual, seriam necessários 15 anos para aprovar tudo isso...

A verdade também é que a autorização da ANEEL antecede à Licença Ambiental de Instalação e é pré-requisito da mesma.O resto é conversa fiada.

A verdade é que a ANEEL é a menor das agências em qualquer modo de comparação que se queira usar.A ANAC tem 2500 funcionários. A ANEEL só tem 500 funcionários, sendo que menos de 280 de nível superior.

Além disso, a nossa Agência não está preparada nem motivada para promover a necessária interface com os órgãos ambientais, que são de controle ESTADUAL cada um deles com um tipo diferente de exigências, normas, parâmetros.

A prova que apresentamos para atestar a falta de importância da questão ambiental na ANEEL é que, dez anos depois de sua criação por FHC, NÃO EXISTA AINDA NENHUMA SUPERINTENDENCIA DE MEIO-AMBIENTE NA ANEEL! Nem mesmo uma divisão, um departamento, nada!

Essa “falta de pessoal”, aliás, também é outra desculpa amarela, pois bastaria que seus dirigentes estivessem realmente interessados em desafogar o gargalo da lentidão na aprovação de projetos hidroelétricos , para que se promovessem concursos ou se nomeassem os profissionais já concursados.

Não. Não se contrata pessoal na ANEEL porque, na agência encarregada de controlar o maior potencial hidráulico do mundo, ainda vigora incólume, fagueiro e intacto o conceito de “Estado Mínimo”, implantado no tempo de sua fundação por FHC, David Zylberstein e outros seguidores da mesma corrente de pensamento que perdeu as eleiçõesmas ficou com muitos cargos.

Lembremos que a receita da ANEEL, de 600 milhões anuais (TFSEE), é obtida mediante a cobrança de um encargo do sistema, no valor de 0,5% de toda a receita do setor elétrico brasileiro, que supera os 120 bilhões ao ano. Esse orçamento nunca foi gasto totalmente no final do exercício, sendo todos os anos devolvidos 200, 180, 150 milhões de reais.

A verdade é que, inexplicavelmente, desde FHC, existe uma enorme má vontade com a hidroeletricidade e com usinas eólicas, não só na ANEEL, mas em vários outros órgãos públicos, nos partidos e na imprensa do nosso país. E uma nítida simpatia para dizer o mínimo, com as centrais térmicas.

Por que será?Incompetência?Difícil acreditar nisso...

Afinal, quanto menos hidroelétricas forem construídas e despachadas, mais termoelétricas a diesel e a óleo combustível serão necessárias construir e despachar e maiores serão os lucros dos que se especializaram em construir esses elefantes pretos para o governo, alugando-os parados e funcionando. De preferência, contratadas sem licitação e de particulares, como no tempo das térmicas emergenciais, construídas no pós-apagão de 2001.

Mas se não for possível serem todas de particulares, algumas podem ser da própria PETROBRÁS, que de qualquer modo, vai ter que recorrer aos mesmos fornecedores de equipamentos e serviços para concorrer, bem como aos mesmos transportadores de combustíveis...

Além disso, energia elétrica produzida a petróleo é uma excelente garantia de mercado para esses combustíveis que, no setor automotivo, deverão perder espaço de forma crescente nas próximas duas décadas, face o impacto direto que o seu consumo tem sobre o bolso dos proprietários de veículos.

Mais ou menos como acontece com os remédios: quando são proibidos nos países ricos e desenvolvidos, por serem nocivos à saúde, passam a ser vendidos nos países periféricos e em desenvolvimento.

É também algo similar ao que aconteceu no tempo do “caos aéreo”, quando “para economizar com pessoal”, tínhamos poucos e mal pagos controladores de tráfego.
Bastou um estimulo aberto de “entidades sindicais internacionais” e o estimulo velado da imprensa e de partidos de oposição para esses senhores “amotinaram-se” e promoverem toda aquela confusão, desgastando o governo e aterrorizando a população.Ainda mais que alta do poder aquisitivo da população vinha aumentando o tráfego aéreo em 25% ao ano, desde 2003.

Bastou redistribuírem-se os vôos que haviam sido acumulados em Congonhas, por força do lobby que as grandes empresas aéreas faziam sobre a ANAC e tudo se resolveu. Acabaram-se quase por milagre os atrasos, sem que nem um metro de pista fosse construído.

No caso do setor elétrico, a idéia parece ser “sufocar” a ANEEL com a falta de pessoal para que ela não consiga aprovar projetos de hidroelétricas na velocidade necessária, abrindo cada vez mais espaço para a gastança de petróleo e a elevação das tarifas, pelo aumento da participação dos combustíveis fósseis na matriz.

Tarifas aliás que já são as SEGUNDAS MAIS ALTAS DO MUNDO NO SETOR INDUSTRIAL, perdendo apenas para a Itália, que não tem nem 15% de sua energia oriunda de fonte hidroelétrica.

Se alguém reclamar disso, as desculpas são sempre as mesmas, a saber:

A primeira desculpa, produzida para agradar à imprensa e aos partidos de oposição, alega que isso é fruto da “interferência do executivo sobre a agência e do contingenciamento de verbas, do “estatismo” do governo Lula, que quer acabar com as agências.”

A segunda desculpa, para uso junto ao publico interno do governo e junto aos setores da chamada esquerda, é a desculpa de que isso é uma prova de que “precisamos acabar com a ANEEL”, ( como se realmente alguém dentro do governo Lula quisesse ou sonhasse em realmente fazer isso). De quebra, o despacho das térmicas ainda serve para “aumentar o consumo de gás comprado dos companheiros da Bolívia”, melhorando a imagem externa do Brasil como líder do sub-continente.

A terceira desculpa é que “Temos que ser pragmáticos e pensar no futuro. Não dá para corrigir os erros do passado nem ficar reclamando do leite derramado. A Petrobrás está aí para isso mesmo. O petróleo é nosso e vamos gastá-lo à vontade, do jeito que nos der na veneta”.

Podem existir outras razões, de caráter operacional para o despacho das térmicas.

Mas o principal motivo é a falta de aprovação dos 37.000 MW de inventários e projetos de hidroelétricas.

Mais detalhes sobre esse gargalo regulatório e de pessoal, que poucos se preocuparam em checar, podem ser encontrados no trabalho “Uma Itaipu de poluição, energia cara e aquecimento global”.Lá estão com mais detalhes, como o PNEE quer que construamos os 14 mil MW de térmicas poluentes ( mesma potencia instalada de Itaipu).

No link abaixo está mais claro como o silencio cúmplice em que incorre esse plano ao não investigar nem mencionar quais seriam as causas verdadeiras “da falta de projetos hidráulicos nos leilões”, serve para que o PNEE, comodamente, não tenha que apontar as falhas da ANEEL, “co-irmã” da EPE.

http://www.enercons.com.br/_imagens/noticias/uma-itaipu-de-poluicao.pdf

Algumas propostas para aumentar o número de projetos de hidroelétricas nos leilões de energia:

1. Reestruturar a ANEEL, dotando-a de pessoal e recursos adequados às suas enormes tarefas e à sua importância para o país.

2. Contratar pelo menos mais 36 analistas de projetos de hidroelétricas para a Superintendência de Gestão do Potencial Hidráulico da ANEEL.

3. Criar uma Superintendência de Meio-Ambiente na ANEEL, encarregada de zelar pela compatibilização da regulação do setor elétrico com a dos órgãos reguladores estaduais de meio ambiente.
4. Criar escritórios regionais da ANEEL, nas capitais dos estados, tal como possuem a ANAC, ANATEL, ANVISA, etc.

5. Instalar um protocolo eletrônico de documentos na sede da ANEEL para aumentar a segurança dos administrados, cumprindo o disposto na Lei 9784, pois hoje esse protocolo ainda é manual e não numerado seqüencialmente, como já acontece em qualquer prefeitura do interior.

São propostas até certo ponto simples, mas que seriam de grande valia para o Brasil voltar a ocupar-se devidamente com a exploração dos enormes recursos hidráulicos que possui. ( mais novos 200 mil MW!)

Elas permitiriam que essa exploração fosse feita não só em estrito respeito à excelente legislação ambiental que já conseguimos produzir, mas em harmonia com outros usos da água doce como abastecimento humano, aqüicultura, turismo, lazer, navegação fluvial, etc.

Uma legislação que não impede nada, mas apenas estabelece justos caminhos de preocupação com o ambiente, que infelizmente vem sendo artificialmente obstaculizados, não só por empreendedores que ainda sonham em burlar normas ambientais, mas muitas vezes, por ONGs cujo orçamento é ricamente abastecido, estranhamente, por vultosas contribuições de gigantes da indústria internacional do petróleo...

E também por disparates como considerar culpados de crime até prova em contrário, sem direito a defesa do órgão ambiental em que trabalham, aos técnicos cujos pareceres ou atos administrativos forem posteriormente considerados de alguma forma equivocados ou inadequados.

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Ivo Augusto de Abreu Pugnaloni
Engenheiro eletricista, ex-diretor da COPEL, atual diretor da ENERCONS Consultoria em Energia Ltda.
ivo@enercons.com.br

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