terça-feira, 5 de agosto de 2008

SERÁ QUE ESTA É A LÓGICA DO SISTEMA? QUANTO MAIS CONFUSÃO COM HIDROELÉTRICAS, MAIS SE OPERARÁ AS TERMOELÉTRICAS E MAIS SE GASTARÁ GÁS IMPORTADO.

by Ivo Pugnaloni 4 comments


Matéria de ontem de Fábio Couto, da Agência CanalEnergia conta que o diretor-geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico, Hermes Chipp, afirmou nesta terça-feira, 5 de agosto, que será necessária a manutenção do acionamento de usinas a gás natural da Petrobras listadas no Termo de Compromisso firmado com a Agência Nacional de Energia Elétrica e de térmicas a carvão, bem como a geração nuclear, para garantir o atendimento do nível-meta de 53% para o submercado Sudeste/Centro-Oeste e de 35% para o Nordeste em novembro deste ano. Essa geração, destacou, deve ser de 6.155 MWmed, o que representa aumento de 1.241 MWmed na geração térmica prevista pela programação da operação para este mês.
Isso porque, explicou Chipp, os armazenamentos previstos para o fim do mês de agosto nos dois subsistemas, segundo o Programa Mensal da Operação Eletroenergética, são inferiores aos níveis de segurança projetados pelo ONS para a mesma data. O PMO prevê armazenamento de 66,9% no SE/CO, enquanto o nível de segurança projetado é de 71%. Para o Nordeste, o PMO projeta armazenamento médio de 60,7%, contra nível de segurança de 64%.

Essa informação confirmaria uma versão que circula no setor desde 2001: quanto mais confusão for promovida na liberação ambiental e autorização de usinas hidroelétricas e PCHs, melhor será para o mercado de gás natural.

Ou seja, quanto mais conflitos existirem entre proprietários de áreas alagadas, pequenas usinas existentes, comunidades indígenas, organizações ambientalistas e os desenvolvedores e investidores, mais retardo sofrerá a entrada em operação de usinas hidráulicas, que usam combustível que o Brasil tem de sobra.
Com o retardo das hidroelétricas, mais gás natural "da Bolívia" precisará ser consumido no mercado nacional e melhores serão os resultados da British Gas e da Exxon, verdadeiras donas das jazidas, das quais "o companheiro Evo" só cobra os impostos.
E melhores resultados alcançarão as empresas que, no Brasil, prestam serviços para essas duas gigantes do petróleo mundial.
Isso não é uma acusação.Só uma constatação.
Mas uma equação bastante simples, de resultados bastante atraentes e filosóficamente correta se não existir preocupação com "patriotismos", "ideologias" e "posições políticas" entre os que a adotarem como linha de ação profissional.
Para algumas pessoas que conheço, pode ser até, uma forma de pensar e agir perfeitamente lógica e até mesmo, moralmente ética, baseada no seguinte raciocínio:

"Se as empresas e os órgãos de governo que trabalham com hidroelétricas não se entendem e as obras desse tipo de usinas não saem, eu não tenho culpa. E alguém precisa fazer o sistema continuar funcionando, portanto....mais gás importado.
Afinal, o MWh mais caro é o que não existe no mercado para ser consumido".

Verifiquem, com os numeros abaixo se estou enganado:

Dados do Operador Nacional do Sistema, http://www.ons.org.br/ mostram que em 2008, apenas até Junho, o Brasil já consumiu 3370 GWh de termoelétricas frente a 1550 GWh durante todo o ano de 2007. Um aumento de 116%.
Considerando o período 2004 a 2007, a média anual de energia de fonte térmica gerada subiu de 1401 para 2214 GWh/ano com relação a 2000 a 2002. Um aumento de 58%, justificado como necessário para, durante a seca, armazenar água devido à falta de reservatórios nos períodos de cheia. (Figura 1).
Apesar de não se pretender discutir a viabilidade de usinas termoelétricas num país com características hidrológicas do Brasil, é inegável dependo de combustível importado de país com situação instável, trazem risco ao suprimento, às tarifas e à competitividade da industria.
Tudo isso acontece apesar do Brasil já ter inventariados e não aproveitados de 110 mil MW hidráulicos, além de possuir empresas de engenharia, técnicos e fabricantes altamente capacitados. Verificar, em profundidade, esses resultados, é função das autoridades responsáveis pelo planejamento econômico e energético. Atribuí-los aos órgãos e a legislação ambientais é uma simplificação inadmissível dos pontos de vista técnico, científico, legal e do interesse público.
Fazer as hidroelétricas parecerem tão dificeis e ambientalmente caras que a melhor opção seja partir emergencialmente para termoelétricas a gás natural pode ser um objetivo perfeitamente correto do ponto de vista empresarial.
A médio prazo, fazer tudo o que for possível para aumentar o custo do MWh hidroelétrico até aproximá-lo o máximo possivel do MWh termoelétrico a gás pode ser algo perfeitamente natural dentro de uma estratégia concorrencial mais agressiva.
Será que isso é mais uma "teoria conspiratória" ou se trata de uma postura perfeitamente compatível com outras atitudes político-empresariais no mundo da energia, do gás e do petróleo, no qual as relações não primam exatamente pelo "fair-play" e pelo cavalheirismo.
Ou muito menos pelo patriotismo, têrmo aliás tão em desuso, que já chega a ser "cafona" pronunciá-lo em certas rodas.

Auditoria Independente: única forma de verificar possíveis causas do significativo aumento da dependência do Brasil de Termoelétricas

Avaliar com rigor científico as exatas razões para o alto nível de expansão da geração termoelétrica no Brasil, tornaria necessário realizar, em primeiro lugar, uma auditoria profunda e independente no sistema de autorizações e de fiscalização da implantação dos empreendimentos de fonte hidráulica.

Só assim seria possível identificar fatos comuns a processos e interessados, tipificando casos-padrão e adotando para cada tipo, soluções adequadas.

Entretanto, os dados oficiais da ANEEL permitem obter algumas informações importantes e entender o cenário em que são apresentadas as mudanças nos processos de autorizações de PCHs , que a nosso ver, por várias razões, só aumentarão conflitos, gerando recursos, retardos e polêmicas não só entre os vários interessados mas com órgãos ambientais estaduais e com o IBAMA.
Nada do acima exposto pode servir para retirar a importância de termoelétricas a gás para socorrer um sistema em colapso por falta de oferta. O que se afirma é que não se pode deixar o país rumar para a emergência só porque se tem o remédio amargo das termicas à gas importado.
Nem tampouco para deixar de reafirmar a importância das térmicas movidas à biomassa, estas sim consumidoras de recursos renováveis, que podem ser produzidos no país, aproveitando nossa enorme vocação agrícola, abundância de mão-de-obra, alto nível de insolação e dominio perfeito da tecnologia.
É só mais um alerta, entre tantos que já se fez e se comprovou estarem corretos desde que Monteiro Lobato afirmava que o Brasil tinha petróleo enquanto "sábios" e "especialistas" a serviço de outras empresas, moviam furiosa campanha desmoralizadora não só contra o escritor e suas ideias , mas contra a própria capacidade do povo brasileiro de, se petróleo existisse no solo nacional, retirá-lo do subsolo.
E se retirasse, de refiná-lo e distribuí-lo de forma lucrativa e sustentável.

Comments 4 comments
Anônimo disse...

Cara, você está viajando, lendo muito livro de espionagem.Essa visão maniqueísta de que tudo é programado já está ficando como se fosse uma doença.
Sinceramente, acho bom você procurar ajuda...

Anônimo disse...

O assunto é muito sério e a opinião do Ivo é a mesma de muita gente que tem muito tempo de janela e não acredita em "acasos" e "coincidências" como eu.Tem sim muita gente trabalhando dia e noite para o Brasil viver um novo apagão hidroelétrico e ser obrigado a depender cada vez mais das térmicas.E ainda poder colocar a culpa do preço da energia no "companheiro Evo".
Só não vê quem não quer.

Anônimo disse...

Monteiro Lobato é um exemplo que devia ser seguido por muitos "homens públicos" já que muitos fingem que não estão vendo que o setor elétrico brasileiro está se transformando pouco a pouco num cassino.
O mediador do blog deveria se colocar mais nessa posição.

Anônimo disse...

Tá ficando sem assunto,"seu Ivo"?
Já é quinta e você,nada...

Ivo Augusto de Abreu Pugnaloni
Engenheiro eletricista, ex-diretor da COPEL, atual diretor da ENERCONS Consultoria em Energia Ltda.
ivo@enercons.com.br

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