quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Aneel e seus novos 186 funcionários - quando o “Estado Mínimo” não funciona

by Ivo Pugnaloni 0 comments

( * ) Ivo Pugnaloni

Através da portaria 21/2010, o Ministério do Planejamento autorizou a ANEEL a realizar concurso para 186 funcionários. Para nós, que trabalhamos para uma agência que há mais de dez anos tem menos de 300 profissionais de nível superior, é uma excelente notícia. E só para comparar, a ANAC tem 2500 e a ANATEL tem 1500 funcionários.

Da ANEEL dependem as relações de 65 milhões de consumidores com 62 distribuidoras e a aprovação de projetos que nossa empresa e muitas outras elaboramos para geração da energia que o país precisa para crescer e gerar empregos.

Por isso, há mais de cinco anos defendo em palestras, seminários e audiências públicas no Congresso e junto a órgãos do poder executivo, a necessidade premente de se aumentar e remunerar melhor o quadro de funcionários da agência.

É preciso investigar se uma agência que regula e fiscaliza o setor elétrico da nona maior economia do mundo, poderia ter funcionado a contento, com um numero de funcionários menor do que grande  parte das prefeituras dos municípios brasileiros.

A julgar pelos 10 bilhões cobrados a mais por engano de todos os consumidores, fato reconhecido pelas próprias distribuidoras, temos um claro indício de que algo não estava bem no que tange ao dimensionamento do pessoal na fiscalização desse serviço.

Quanto à geração, o o site da ANEEL mostra que existem mais de 30 mil MW em projetos e inventários de hidroelétricas esperando pela aprovação há cinco e até seis anos, enquanto a agência tinha apenas 12 técnicos para analisá-los e aprová-los...

Isso quer dizer que poderíamos ter quase 45% a mais de energia hidroelétrica, limpa e de custo muito mais baixo, se um quadro adequado, suficiente e bem pago estivesse trabalhando na ANEEL e esta não tivesse “economizado com pessoal” nas gestões anteriores.

E não estaríamos dependendo de 81 termoelétricas que ainda precisam ser construídas e estão projetadas para entrar em operação, com seus 13,5 GW e todas as conseqüências que apontamos no trabalho “Uma Itaipu de Poluição”.
Com um orçamento de 500 milhões por ano, arrecadados nas faturas dos consumidores e produtores de energia, a ANEEL não tem razão nenhuma para realizar essa tal “economia com pessoal”.



A quem serve uma ANEEL com poucos funcionários e alta rotatividade?

Além de comemorarmos a contratação de mais pessoal, é preciso, ao mesmo tempo, refletir e quantificar o prejuízo que essa “economia” já custou e ainda custará ao país.

E também verificar se, somente essa contratação é suficiente para reverter o prejuízo, acelerando a aprovação dos projetos de hidroelétricas a tempo de conter a maré negra dos combustíveis fósseis, caros e poluentes, que já vem por aí.

Aliás, essa “tese” de “estado mínimo”, quando se trata de fiscalizar e gerenciar negócios do poder público com grandes grupos econômicos é, no mínimo, controversa.  

Sem hidroelétricas aprovadas a tempo, quem lucrará e muito, serão os fornecedores de óleo combustível, diesel e carvão, além é claro, dos empreendedores que participarem dos leilões com unidades geradoras termoelétricas que ganham até parados, sem gerar um único kWh.

Outra questão importante é quanto ao salário dos atuais funcionários da agência: eles serão equiparados aos dos novos contratados, ou a alta rotatividade continuará fazendo da agência uma excelente e caríssima academia, formando pessoal especializado para trabalhar no setor privado?

Na verdade, tenho curiosidade em saber se os defensores dessa “tese” do “estado mínimo na ANEEL”, caso fossem donos de empresas de ônibus, iriam deixar de contratar cobradores e fiscais, só “para economizar com pessoal”...
Ou ainda, se eles apóiam ou são contra a contratação de professores para as 78 novas escolas técnicas federais inauguradas essa semana pelo presidente da república... Ou se acham melhor que, alegando o disposto no artigo 47, parágrafo 5º, da lei 9.649/99, a União continuasse atribuindo a criação desse tipo de escolas aos estados e municípios e que seu numero total continuasse sendo de apenas 140, como era em 2002.

A propósito, observo com espanto e tristeza, como ex-aluno da Escola Técnica Federal do Paraná e ex-professor do CEFET-PR, que essa inauguração, como as contratações na ANEEL, de altíssima importância para o futuro do setor elétrico e do país, não tenham merecido nenhuma divulgação dos noticiários da noite ...


Outras boas notícias que gostaríamos de ouvir

Boas notícias são sempre bem vindas e esperemos que outras mais se sucedam.

Por exemplo, que a ANEEL não mais dê “aceite” em estudos incompletos, contrariando suas normas. Isso cria insegurança jurídica, prejudica concorrentes que entregam estudos completos e cumprem o cronograma. E que os aceites que já foram dados irregularmente sejam anulados “de ofício”, por serem ilegais, como já se manifestou a própria procuradoria federal da agência em vários processos.

São estudos incompletos que causam aquilo que depois será convenientemente chamado de “problemas ambientais”, causando atrasos no licenciamento.

Outra boa noticia seria que a ANEEL abandonasse a idéia de apoiar concorrentes a formarem cartéis, alterando o disposto nos itens 56,57 e 75 da Nota Técnica SGH 291/2009, na qual se quer embasar mudanças na regulamentação para novos inventários.

Manter e elevar o nível da concorrência dos agentes privados e públicos pelos potenciais hidráulicos da União é obrigação legal da ANEEL. E foi graças a ela, que no Rio Madeira, os dois consórcios licitantes baixaram os preços em mais de 30% com relação ao máximo fixado pela agência.

Vamos torcer para que outras boas notícias, como essas, vindas da ANEEL e do Ministério da Educação, possam suceder-se e chegar até nós, pois fortalecer as instituições democráticas é o caminho do progresso econômico e social.

( Ivo Pugnaloni é engenheiro eletricista formado pela UFPR, foi diretor da Companhia Paranaense de Energia COPEL e é diretor técnico e comercial da ENERCONS e da ENERBIOS Energias Sustentáveis )

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Ivo Augusto de Abreu Pugnaloni
Engenheiro eletricista, ex-diretor da COPEL, atual diretor da ENERCONS Consultoria em Energia Ltda.
ivo@enercons.com.br

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